Por que caminho devo seguir para tua alma? Por que anel supremo? Por que quarto de outono? Corro pelo horizonte porque uma faca corta a cópia do teu rosto como um barco corta um rio. Haverá Deus avesso a este sono? _______mariagomes
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Mostrando postagens de 2018
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Chove quando menos te lembro. Em todos os poema nomeio a chuva como nomeio os barcos. Junto ao mar... Chove tanto! Docemente, junto aos teus lábios... E ao teu cabelo. A chuva vem de um véu da noite. Vem do ventre das palavras, dos palmares, das brancas mãos que tanto amei. E ouve, ouve, agora, a água que goteja, ouve meus olhos viajantes pela nudez dos campos. Ouve o espectro desta voz sem nome, sem palavras. Chove. ____________mariagomes
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Quero-te. Quero-te mais do que quis. Quero que me fales, outra vez, da raiz do deserto das searas que vi. Quero que contemples, por mim, o dilúvio, E o rio. O rio que te correu na voz e, um dia, voltou a incendiar o azul. Quero que me escrevas uma carta que me diga do mundo, e de ti. _________mariagomes
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[ apontamento, para memória] Estavas no quarto de um hospital, quando o cirurgião dizia que depois de seres operado, quando abrisses os olhos terias, de volta, a savana. Imensa terra com algumas árvores, arbustos isolados e muitos pássaros, e o céu a arder. Era inverno. E continuou a ser inverno, pai. Nunca mais a savana. Nunca mais o sol, a terra, e o mar logo ali. Nunca mais a terra se vestiu para a grande festa africana. __________mariagomes
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As mães costuram as unhas nas funduras dos ventos para que os filhos vejam o tamanho e a cor de um campo farto de trigo. As mães sangram, as mães descobrem mantos de sorrisos, a alegria dos sóis para que nunca anoiteça, luz se faça ante os olhos de seus filhos. As mães são as mais belas criaturas que plantam amor nos desertos. As mães chovem para que os rios desaguem. São o mar e o verão quente ainda que os dias nasçam cinzentos. São as mães. ________mariagomes
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Uma ave cresce nos meus dedos no meu corpo como um sol perdido. Se cantasse eu ouviria a voz amada que me embalou; a profecia, sensível, calada do vento que sopra pelos areais. E ouviria as âncoras que se levantam febris na infância que foi. Ah amor que flui, alma adormecida de um só oceano! Uma ave cresce nos meus dedos no meu corpo como um sol perdido, e não canta. __________mariagomes