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Mostrando postagens de 2017
À flor da pele, a lucidez, o bater do coração, o olhar de quem não vê a paisagem que irrompe do delicado ofício da morte onde pernoitam as aves, atentas, eternas, ao seu cantar. mariagomes
Tenho o teu nome no coração deserto, na escassez da voz que se abriga na carícia eivada de mar e de rosas. Amanheço oceânica, amorada, no teu nome que tenho no coração deserto. Quero construir um templo com o teu nome, à luz da geometria contígua de ínsulas e estrelas de água. mariagomes
A música é, bastantes vezes, o revólver que aponto à cabeça para me obrigar a escrever. Parece uma violência, dito deste modo, mas não há outro modo para dizer. A música tem um mecanismo de alimentação, um arco de revolução por disparo. Eu preciso desse arco para escrever. mariagomes
Um dia, enlouqueceremos no poema, na dourada alegria do vento. Não saberemos da espada do seio dócil, do corpo materno que nos uniu à terra, às tâmaras, ao sol do inverno. Apascentaremos a palavra noite, a palavra onde se acendem lâmpadas e tuneis de anémonas. E o amor nascerá, devagar, sem nenhum prenúncio, sem nenhuma ausência cavalgando no mar a solidão sombria. Com os nossos dedos, um dia, inventaremos gritos, certos gritos, íntegros e rigorosos gritos e o coração será uma flor, e o amor será pouco para a plenitude das coisas, um dia, mariagomes
As pupilas libertas, a amplidão do sol, pertenciam-te. Pertenciam-te as estrelas, as mãos iguais, em calma secreta pertencia-te o mar, a terra, o vento Naquele manto imanente de corais o dia puro, violento. mariagomes
O rio parecia um espelho. Estavam tão quietas as águas, que num tumulto, todas as coisas me ensinavam a tua ausência, A perfeição do teu rosto. A luz do teu cabelo. A brilhante sombra, a serenidade intacta das palavras. Nas tuas palavras poisavam ilhas futuras. Devagar, fazias o tempo. Eras tu o rio. Eras tu o silêncio e o tumulto. Estavam tão quietas as águas. mariagomes
A morte existe no fundo dos espelhos germina nas imagens mais informes entre paraísos e infernos. É clara e basta. A morte está no poema, na respiração do deserto e no mar. Há na morte um coração muito nítido, uma luz que corre, um luar. Meu amor, a morte é um anjo que passou parado num impossível. mariagomes
À noite colho rosas e ventos, na vidente exaltação; vacilando, os versos que disseste... Como é leve o silêncio do poema! Como arde a voz! mariagomes
Outono à minha volta onde invento  o sol e uma flor definitiva. Transbordante noite de novembro. mariagomes
Às vezes ponho-me a escrever na esperança de que nasçam estrelas nesta paz dor(mente) nesta paz que é dor e mente. Escrevo nesta morada que me foge das mãos que me arranca um grito um grito que se faz pedra noite e gestação. Escrevo numa entrega como quem faz um voo. mariagomes