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Mostrando postagens de fevereiro, 2018
Quero-te. Quero-te mais do que quis. Quero que me fales, outra vez, da raiz do deserto das searas que vi. Quero que contemples, por mim, o dilúvio, E o rio. O rio que te correu na voz e, um dia, voltou a incendiar o azul. Quero que me escrevas uma carta que me diga do mundo, e de ti. _________mariagomes
Inacabável canto ruína que silencia, que dança, e se rebela e é pedra e coração. ______mariagomes
Eu, estátua e solidão, eu, âmago caminho para o mar da minha sede. Eu, livre e triste, canto a minha noite e o meu canto existe para além do sol. ________mariagomes
Na minha morte sou o grafismo da chuva a raiz a arder alma alva inatingível. ______mariagomes
Para o meu jardim secreto, a cor do teu sorriso. Para o fim das tardes outonais, o teu cabelo, um pássaro em fogo, crepuscular. Para o mar,  a forte e funda condição humana que me exorciza, profana, tutelar. ____________mariagomes
Escrevo para que o sol nasça dentro de mim. Escrevo para ouvir as palavras que nunca ouvi. _________mariagomes
[ apontamento, para memória] Estavas no quarto de um hospital, quando o cirurgião  dizia que depois de seres operado, quando abrisses os olhos terias, de volta, a savana. Imensa terra com algumas árvores, arbustos isolados e muitos pássaros, e o céu a arder. Era inverno. E continuou a ser inverno, pai. Nunca mais a savana. Nunca mais o sol, a terra, e o mar logo ali. Nunca mais a terra se vestiu para a grande festa africana. __________mariagomes
As mães costuram as unhas nas funduras dos ventos para que os filhos vejam o tamanho e a cor de um campo farto de trigo. As mães sangram, as mães descobrem  mantos de sorrisos, a alegria dos sóis para que nunca anoiteça, luz se faça ante os olhos de seus filhos. As mães são as mais belas criaturas que plantam amor nos desertos. As mães chovem para que os rios desaguem. São o mar e o verão quente ainda que os dias nasçam cinzentos. São as mães. ________mariagomes
Vem aí a primavera com seus alabastros e jóias de jade. Para nós, o tempo renasce arrulhando como uma ave, mãe. Teremos as flores de âmbar, um rio que se ergue com voz fecunda, as vagas de espuma, agitadas, que pairam no peito até que se ponha o sol e depois a lua. _______mariagomes